Obesidade infantil e seus riscos

Criança fofinha? Cuidado, pode ser obesidade!

Bebê fofinho e rechonchudo tem a aparência de bebê saudável. Porém, isso pode ser obesidade e a saúde do seu bebê pode correr riscos. Nos últimos anos, a obesidade infantil tem se tornado um problema nutricional mais grave do que a desnutrição. Só para se ter uma ideia, obesidade é um distúrbio considerado epidêmico no mundo todo, um problema que não faz distinção entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, levando à análise de que a raiz da epidemia provavelmente está nos hábitos atuais de consumo. Dados do The Infant and Kids Study (IKS), estudo realizado em 2016 pelo Ibope, revelam que 52% das crianças não praticam atividade física, e que 75% passam mais de 4 horas por dia em frente a aparelhos eletrônicos, destacando-se a televisão, o computador e o videogame, além de adotarem uma dieta desequilibrada, rica em fast-foods, alimentos industrializados e congelados, refrigerantes, doces e frituras.

PRIMEIRA INFÂNCIA

Obesidade é uma doença crônica que se caracteriza pelo excesso de gordura corporal, causando prejuízos à saúde da criança, sobretudo, na primeira infância, período que vai do nascimento até os 6 anos de idade. Esse período é nuclear, ou seja, é uma janela aberta de experiências e descobertas que a criança leva para o resto da vida. Alguns fatores são preponderantes para o desenvolvimento da obesidade infantil nesse período. O desarranjo precoce é um deles e, como consequência, a introdução de alimentos complementares inapropriados.

COMO DIAGNOSTICAR

Sem fórmulas mágicas ou caseiras. A consulta ao médico é a melhor forma de diagnosticar a obesidade (claro que os pais podem pesar a criança e constatar o sobrepeso). O procedimento médico é a avaliação da quantidade de gordura corporal. Em adultos, costuma-se calcular o Índice de Massa Corporal (IMC), utilizando-se a seguinte fórmula: IMC = Peso atual (kg) / altura (m). Em bebês e crianças, a avaliação da massa corporal é feita por tabelas que relacionam idade, peso e altura, porque o IMC não é indicado para esse período, pois bebês e crianças passam por rápidas alterações corporais decorrentes do crescimento. Para verificar a adequação da altura e do peso até os 5 anos de idade, a rede pública de saúde do Brasil usa o “cartão da criança”, cujo acompanhamento é feito nos postos de saúde. O profissional também poderá indicar quais mudanças no estilo de vida devem ser feitas para o caso particular da criança e, se necessário, receitar medicamentos.

CAUSAS

Assim que chega ao mundo, a recomendação é que os bebês sejam nutridos com o leite materno. Aos 6 meses de idade, a criança passa a comer alimentos sólidos, além do leite materno. Nessa fase, a ingestão de alimentos inapropriados na dieta é uma das causas da obesidade infantil. Em detrimento de frutas, verduras, grãos e carnes, geralmente, são introduzidos itens altamente calóricos e pouco nutritivos.

Portanto, o comportamento alimentar adotado pela família é uma das causas da obesidade infantil. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta que filhos de pais obesos têm mais chances de apresentarem o distúrbio quando comparadas às crianças cujos pais têm peso normal. Hábitos alimentares inapropriados e sedentarismo são preponderantes no desenvolvimento da obesidade. E o mais preocupante é que o sedentarismo está crescente em todo o mundo. A criança de hoje passa, em média, quatro horas na frente da televisão. Os bebês também estão nessa onda e começam a utilizar tablets e celulares precocemente. Por consequência, passam menos tempo brincando e mexendo o corpo, o que é fundamental para prevenir o excesso de peso.

CONSEQUÊNCIAS

Longe de ser apenas uma questão estética, o excesso de peso na infância pode causar distúrbios preocupantes no futuro da criança O sobrepeso infantil é um fator de risco para o desenvolvimento de várias doenças, como colesterol alto, pressão alta, doenças cardiovasculares precoces, diabetes, problemas precoces nos ossos, síndrome metabólica, distúrbios do sono, esteatose hepática não alcoólica, problemas de pele como alergias pelo calor, infecções causadas por fungos e acne, além de aumentar as chances do excesso de peso na vida adulta.

COMO DRIBLAR A OBESIDADE

Os principais vilões da obesidade infantil são a má alimentação e a falta de atividades físicas, portanto, a melhor estratégia para que a criança mantenha ou perca peso é a mudança dos seus hábitos. Claro que se o exemplo vier dos pais é melhor.  Veja a recomendação de especialistas sobre a melhor forma de orientar os filhos:

– Alimentação saudável: escolher os alimentos corretamente e não exagerar nas porções e incluir na alimentação variedades de frutas e legumes.

– Produtos industrializados: reduzir o consumo de biscoitos, salgadinhos, congelados e refrigerantes, que são ricos em açúcar, gordura e calorias.

– Preparo de alimentos: assar ou grelhar a carne é mais saudável do que fritá-la.

– Produtos lácteos: leite, iogurte e sorvete devem ser consumidos com baixo teor de gordura e calorias.

– Fast-food: limitar as refeições fora de casa, principalmente em restaurantes fast-food. Sempre que possível, as refeições devem ser feitas em família, na mesa.

– Exercício físico: as crianças devem praticar, pelo menos, uma hora de exercício físico por dia. Encontrar uma atividade que a criança goste, não é necessário um programa de exercícios estruturado, o importante é que ele movimente o corpo. Deve-se estimular atividades lúdicas como pega-pega ou pular corda.

– Telas: limitar o tempo que a criança passa na frente da tela da televisão, do videogame, do smartphone etc.

OBESIDADE NO BRASIL

O professor Hugo Tourinho Filho, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, especialista em ciência do movimento humano, que atua na área do crescimento e desenvolvimento e treinamento esportivo, principalmente da criança e do adolescente, destaca que “no ano de 1989, as crianças que apresentavam sobrepeso no Brasil representavam apenas 15%. Esse número pulou em 2018 para 35%”. Naquela época, apenas 4% das crianças eram obesas, “hoje os índices já ultrapassam os 16%. Isso quer dizer que uma a cada três crianças no Brasil uma está com sobrepeso”, destaca Tourinho.

O aumento de peso da população é uma realidade, e a obesidade infantil vem se tornando um problema de saúde pública. A chance de a criança obesa chegar à vida adulta sofrendo de obesidade chega aos 80%. Como tratar obesidade é caro, o impacto no sistema público de saúde é muito alto. “Estudos recentes apontam que cerca de 50% das crianças de 5 a 7 anos de idade que praticam atividades físicas regularmente, ao crescer, têm maior probabilidade de continuar praticando atividade física”, conclui Tourinho Filho.

OBESIDADE NO MUNDO

Tim Lobstein, diretor de política da Federação Mundial de Obesidade e autor de um novo estudo da entidade sobre obesidade no mundo, aponta que o número de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos que estão acima do peso deve pular de 220 para 268 milhões em menos de uma década, e que cerca de 91 milhões serão obesas. Segundo a pesquisa divulgada em 2018, o excesso de gordura levará o mundo à casa dos 28 milhões de pequenos hipertensos, 39 milhões com gordura no fígado e 4 milhões com diabetes tipo 2.

O estudo também mostrou que o consumo de refrigerantes e comidas gordurosas aumentou no mundo inteiro, além do sedentarismo. “As propagandas de junk food continuam a influenciar as escolhas à mesa e um número cada vez maior de famílias. com baixa renda vive em ambientes urbanos; uma receita fatal para o ganho de peso e um passo para a obesidade” completa Tim Lobstein.

Lançado em novembro de 2012, o documentário Muito além do peso mostra um contexto de amplo debate sobre a qualidade da alimentação das crianças e os efeitos da publicidade nos alimentos que elas consomem. Dirigido pela cineasta Estela Renner, é fruto de uma longa trajetória de mobilização da sociedade sobre os problemas decorrentes do consumismo na infância.