Redação: Wei Mei Hsu
Educando para a diversidade
O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de andar pelas estradas. Olhando para a direita e para a esquerda. E de vez em quando olhando para trás. E o que vejo a cada momento. É aquilo que nunca antes eu tinha visto (CAEIRO, 2001)[1].
Ao nos depararmos com o poema de Alberto Caeiro, podemos reconhecer as potencialidades do olhar, especialmente aquele voltado às perspectivas da educação. E quando este olhar percorre a Educação Infantil, isso se torna ainda mais complexo, já que ela contempla uma das fases mais importantes do desenvolvimento humano: a Primeira Infância.
Desde cedo, muitas são as (re) construções de comportamentos, emoções e conhecimentos dos sujeitos. Diante delas, reconhecemos que temos condutas próprias para determinadas idades, onde, por exemplo, há determinado tempo para o desenvolvimento de movimentos como o de se sentar, ou outros mais complexos, como o de falar.
Ainda assim, mesmo havendo expectativas para cada fase de desenvolvimento, é preciso ter atenção à individualidade dos sujeitos, pois existem aqueles que a percorrem por outros caminhos para chegar aos mesmos objetivos. Diante disso, entendemos que a inclusão é essencial desde a Educação Infantil.
Muitas são as notícias, reportagens ou matérias abordando sobre a inclusão na Educação Infantil, por vezes gerando polêmicas e discussões voltadas para essa temática. Mas especificamente no campo da pedagogia, em pleno século XXI, em meio a uma pandemia, como educadores e familiares podem lidar de maneira positiva com esse desafio?
- Conhecer para conduzir
A inclusão na Educação Infantil precisa ter como base o conhecimento. Não digo aqueles atrelados exclusivamente aos conteúdos, mas antes é preciso conhecer os alunos enquanto pessoa. Apesar de parecer óbvio, é uma tarefa complexa e fundamental. Conhecer o aluno na perspectiva da educação inclusiva implica em reconhecer as inúmeras singularidades que formam o sujeito: seus interesses, dificuldades, vivências, conhecimentos prévios, etc.
Mas como conhecer um aluno que, por exemplo, apresenta uma defasagem na fala? Mesmo diante desse aluno, vale o olhar atento para as significações que são dadas para determinadas brincadeiras, interações e trocas de vínculos. Seus gestos, comportamentos, expressões faciais podem dizer mais do que muitas palavras, e para captá-las, é preciso que o educador tenha um olhar sensível e atento para essa criança.
- Parcerias para aprender e compreender
Parcerias também são essenciais. Desde aquelas atreladas às salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE), para identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos voltados para as especificidades do aluno. Assim como diante de uma equipe multidisciplinar, sendo esta formada por psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, dentre outros no intuito de garantir todas as potencialidades com esse aluno – que é formado por questões de ordem psicológica, biológica e social. Da mesma forma, é importante haver vínculo e parceria com seus familiares, não somente no intuito de estreitar relacionamentos para conhecer melhor a realidade do aluno, mas também para orientar os pais e responsáveis, que muitas vezes apresentam preconceitos sobre determinadas condutas que precisam ser melhor direcionadas. Além disso, essa parceria também é fundamental para uma extensão dos trabalhos realizados no contexto escolar, fazendo com que os lares também sejam um espaço de desenvolvimento das capacidades e habilidades dessas crianças.
- Registrar para seguir
Os registros se mostram um importante mecanismo na educação inclusiva na Educação Infantil, já que por meio delas podemos reconhecer os avanços e as dificuldades da criança. Da mesma forma, também proporciona ao educador refletir e ressignificar suas ações. Até porque, a inclusão aqui descrita não busca minimizar os conteúdos abordados nos currículos, mas caminha para a ressignificação deles a fim de garantir o aprendizado de todos.
- Adendo
Apesar de ter exemplificado a educação inclusiva somente através das deficiências, é importante ressaltar que ela não está diretamente ligada, exclusivamente, a esse público. Do contrário, também está associado àqueles que de certa forma podem ser excluídos, ou mesmo, silenciosamente, se encontram em situação ou em risco de exclusão. Mesmo porque, nosso mundo é extremamente tendencioso a segregar devido a questões sociais, econômicas, políticas, etc., e a escola não pode compactuar com essa visão.
[1] CAEIRO, Alberto. O meu olhar é nítido como um girassol. In: PESSOA, Fernando. Poesia: Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 26.
Wei Mei Hsu é pedagoga, especialista em Educação e Saúde no Atendimento Escolar Hospitalar e mestranda em Educação e Saúde na Infância e Adolescência.